Hermenegildo de Barros: O personagem do mês
Um amigo, morador da Rua Hermenegildo de Barros, na Glória (subida para Santa Teresa), onde se localiza o famoso Casarão Hermê, resolveu pesquisar quem foi o tal Hermenegildo que deu nome à sua rua. Para sua surpresa, descobriu que o emblemático personagem de nossa história foi o ministro do Supremo Tribunal Federal que autorizou a deportação de Olga Benário para a Alemanha nazista. E o que é mais curioso, descobriu um poema feito por Aprígio dos Anjos, irmão de Augusto dos Anjos, em “homenagem” a ele. Uma obra-prima que, como vocês poderão observar, cairia como uma luva para muitos dos atuais ministros do Supremo.
Neste foro de gênios insepultos,
Cheio de múmias e quadrupedantes,
Vejo pingüins passarem por gigantes
E analfabetos por jurisconsultos.
Acórdãos de sentidos claudicantes,
Na feitura de juízes semicultos
Criam formas bizarras e tumultos,
Que escapa à perícia de Cervantes.
A balança da lei não tem mais pratos,
Desde de que sucumbiu Poncius Pilatos,
Desgraçou-se a justiça de uma vez.
Ele ao menos conforme a bíblia ensina
Lavava as mãos escuras com benzina,
Coisa que Hermenegildo nunca fez!
Formidável, não acham?
E para terminar, numa rápida consulta ao site dos Correios, descobri que o ilustre ministro também virou nome de rua em São Paulo e Belo Horizonte.
É cada susto que a gente leva com os personagens que deram nome para nossas ruas…
5 outubro, 2008 às 3:59 pm
Quantas ruas devem ter nomes de pessoas que poderiam nunca ter existido? Coisas do poder…
Abraços
6 dezembro, 2009 às 11:06 am
Eu moro na casa que morou esse desgraçado…que posso fazer…tem uma vista muito bonita…gostaram da bandeira de pirata lá no alto? Hoje essa casa é habitada por 2 artístas 2 cachorros e 4 gatos….E até que a gente tá feliz !!!!
O mundo dá voltas…hoje os magistrados preferem morar em flats na Barra…rs
É mais seguro sabe!!!!
5 outubro, 2008 às 6:51 pm
E quantas pessoas mereciam ser homenageadas e não foram…
5 outubro, 2008 às 7:44 pm
O site dos Correios sabe que você anda fazendo esse rastreamento? 😛
5 outubro, 2008 às 11:46 pm
Olá!
Quem precisa de professor quando se tem internet não é mesmo?
ótimo blog!
6 outubro, 2008 às 8:00 am
David, para minha surpresa (nem tanta, afinal) sou informado pelo blog do Luiz Azenha que o Ministro Gilmar Ferreira Mendes deu nome à uma “Avenida” (sem asfalto, de terra batida mesmo) na cidade de Diamantino (209 km de Cuiabá) governada por seu irmão, o prefeito Francisco Ferreira Mendes Júnior (PPS).
É isso aí, em vida, já virou homenageado… E detalhe para a participação canhestra do mano “Juninho Mendes”.
Ah, e é sempre bom lembrar o motivo desta bonita elegia ao Ministro Hermenegildo: seu “nihil obstat” à deportação de Olga Benário para a Alemanha do III Reich.
6 outubro, 2008 às 8:13 am
Ah cara, fala sério… Se a gente for entrar nessa de “fulano deveria ter sido homenageado e não foi” não conseguiremos trabalhar hoje. Eu conheço uma meia dúzia de nomes, vocês devem conhecer outra meia dúzia cada um, aí iríamos discutir quais nomes são relevantes, quem deveria ser excluído, quem ficaria com a avenida, a estrada, a rua, a ponte, a praça, o beco…
E é claro que eu não digo isso por ter sido o Afonso Ribeiro (minha antiga rua) um preso político contrário à monarquia portuguesa, degredado para o Brasil logo na primeira leva… rs
Poxa, eu que sou tão boazinha só ganhei um poema até hoje (mesmo assim um escrito por namorado – fofo, mas literariamente normal, nenhum soneto.. rs). Vão ver quantos poemas, contos, crônicas, peças, livros (livros!!!) a “gente do mal” já ganhou…
Sugiro apenas que a prefeitura – nessa onda de dizer quem são os donos dos nomes das ruas – contem a história direito. Imaginem: “Hermenegildo de Barros. Ministro do STF responsável pela deportação de Olga Benário para a Alemanha nazista.” Ia ter gente se mudando… 😉
6 outubro, 2008 às 9:20 am
Já pensou se a rua Cachambi vira Rua Leandro Moreira? Gostei da idéia. Vou fazer algo bizarro e entrar para a história: o que vocês acham?
6 outubro, 2008 às 10:04 am
Putz, e eu ia escrever algo como “daqui a alguns anos teremos ruas com o nome do Gilmar Mendes…”, sem saber que isso já acontece hoje.
Agora imagina a descrição: “Rua Gilmar Mendes: Ministro do STF, abolidor do uso de algemas para presos ricos.”
Não existe uma norma que impede a nomeação de logradouros públicos enquanto a pessoa homenageada ainda está viva? Ou isso se dá a nível municipal?
6 outubro, 2008 às 2:17 pm
Fàbio, parece que existe sim um impeditivo legal. O advogado subscritor da representação contra o Ministro no Senado cita a Lei federal n.º 6.454/77. Não sei se esta lei se aplica à Administração municipal (e lá vai a viagem do advogado…).
Deixo minha contribuição singela para solucionar este “nó górdio” jurídico: talvez o vício de ilegalidade convalescesse com o passamento do Ministro… Salva-se, com o óbito de Sua Excelência, tão singela homenagem dos edis de Diamantino….
6 outubro, 2008 às 3:58 pm
Pra ser homenageado não precisa ser brilhante, basta ter praticado um ato de relevância social. Moral, imoral ou amoral, isso não importa.
6 outubro, 2008 às 4:01 pm
Falando em moral (e falta dela, para quem se reivindica o paladino da própria), interessante essa polêmica entre a Carta Capital e o Ministro do STF…
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3236365-EI6578,00-Mendes+critica+CartaCapital+Mino+Carta+rebate.html
A matéria da revista é interessante, mas digo logo que o Gilmar não faz mais nada além daquilo que é visto diuturnamente no Judiciário…
7 outubro, 2008 às 2:46 pm
Eu acho que hoje não há homenagem mais infeliz do que batizar ruas. Digo isso porque, hoje, isso virou uma situqção tão banal, tão eleitoreira e oportunista que os “homenageados”, muitas vezes, devem se sentir constrangidos. É como se os governantes dissessem: “pronto, batizamos a rua com o nome dele, agora tá tudo certo”.
É só a pessoa morrer que vira nome de algum logradouro, rapidinho, como forma de “quitação do débito social para com a memória do morto”: Ayrton Senna, Lúcio Costa, Mario Henrique Simonsen, Dom Eugênio Sales. Só não vão rebatizar a Perimetral porque aquilo é feio demais, aí seria capaz de a família do homenageado processar o poder público, pedindo reparação dos danos morais do falecido.
Pior são aquelas vítimas da violência que são, depois, vítimas do oportunismo de políticos inaptos. Lembra do João Hélio, aquele garoto que foi arrastado por sete bairros e foi enterrado sem cabeça, porque ela nunca foi achada? Então: virou nome de praça. Ah, então tá tudo bem…
Nem o Galeão foi perdoado. Virou Tom Jobim. Um cara que, se por um lado compôs o “Samba do Avião”, por outro lado disse: “O Brasil tem uma saída: o Galeão. O último a sair apague a luz.”
Pior: daqui a pouco, esses homenageados podem até perder a homenagem, por falta de logradouros e excesso de homenageados. Aí é capaz de o Aeroporto Tom Jobim Ser rebatizado com o nome de algum ex-BBB. Ou a estátua da liberdade da Barra receber o nome de César Maia (que Deus o tenha).
Pronto, postei nos comentários. Foi mal, hein? 8)
11 outubro, 2008 às 6:00 pm
Post nos comentários é um classico eduardês…
Mas vem cá, isso aqui virou blog jurídico mesmo, né?
E o Galeão vai virar Aeroporto Internacional Tom Jobim-(insira aqui o nome do BBB). O hífen é milagroso, resolve tudo!!! 😉
Ninguém (no avião) fala “Aeroporto Internacional Tom Jobim”. Só ouço falarem “Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro”. Ouvi isso em inglês, espanhol, francês e em português também. Isso corrobora a teoria de quitação “plena, rasa e irrevogável” com o batismo. “Po, o nome já tá lá! Vocês agora querem também o reconhecimento público? Então façam algo mais importante!”
21 outubro, 2008 às 7:21 pm
[…] lembrei de um “post” que fiz em um comentário sobre um post do excelente Vala Comum, do David, em que falei exatamente desse assunto. Segue o […]
21 outubro, 2008 às 7:23 pm
[…] lembrei de um “post” que fiz em um comentário sobre um post do excelente Vala Comum, do David, em que falei exatamente desse assunto. Segue o […]